Intervenção do Presidente do Governo
Presidência do Governo Regional
Texto integral da intervenção do Presidente do Governo, José Manuel Bolieiro, proferida na terça-feira, por via digital, na sessão de abertura CILPE2025 - IV Conferência Internacional das Línguas Portuguesa e Espanhola:
“Saúdo-vos, a todos, a partir do arquipélago dos Açores.
Lamento, profundamente, não poder estar convosco fisicamente, hoje e aí na cidade da Praia, o que seria um gosto pessoal e institucional.
São as inadiáveis responsabilidades da governação regional, neste período de debate e votação orçamental, para o Plano e Orçamento regionais para 2026, que me impossibilitam a ausência cá e a presença aí, entre vós.
No entanto, não poderia deixar de me associar, ainda que à distância, a esta 4.ª Conferência Internacional das Línguas Portuguesa e Espanhola.
E faço-o com enorme sentido de oportunidade e de relevância.
Para evitar a ausência total, faço-me presente por esta via audiovisual, pedindo a vossa compreensão para esta alternativa.
Quero, em primeiro lugar, felicitar calorosamente a Organização de Estados Ibero-americanos e todas as entidades coorganizadoras por esta magnífica iniciativa.
A decisão de realizar a CILPE2025 no continente africano, e especificamente em Cabo Verde, é, como o vosso documento programático refere, "descentralizadora e simbólica". É, acima de tudo, profundamente estratégica.
Aliás, exalto a opção.
Num ano em que Cabo Verde comemora 50 anos da sua independência, esta conferência na cidade da Praia é o reconhecimento justo do papel de Cabo Verde como uma nação de diálogo e um exemplo vivo de interculturalidade.
Aproveito o ensejo para dirigir especial e calorosa saudação ao povo cabo-verdiano, que aliás tem significativa comunidade aqui nas nossas ilhas dos Açores.
Esta Conferência reúne decisores políticos e especialistas de topo, e fá-lo sublinhando, e muito bem, o papel da Macaronésia como ponte cultural, científica e económica entre continentes.
Os Açores, a cujo governo regional tenho a honra de presidir, são parte fundadora e integrante desta comunidade de arquipélagos atlânticos—juntamente com os nossos irmãos de Cabo Verde, das Canárias e da Madeira.
O oceano que partilhamos não nos separa; une-nos. E nesta rede de ilhas que desenha as rotas do Atlântico, o arquipélago dos Açores assume uma posição geoestratégica absolutamente singular.
Somos, é da geografia imutável, a região europeia mais próxima das Américas.
Esta proximidade não é, no entanto, apenas um dado geográfico.
É uma realidade histórica, cultural, humana e económica que tem vindo a moldar a nossa própria identidade.
Os Açores são e têm sido, por vocação e por história, um ponto de encontro de rotas, um porto de abrigo e de partida para o intercâmbio entre a Europa, África e as Américas.
Por isso, compreendemos de forma muito particular a importância dos temas centrais que aqui nos reúnem.
O lema — Multilinguismo, Interculturalidade, Cidadania — capta perfeitamente os desafios do nosso tempo.
As nossas línguas, a portuguesa e a espanhola, representam uma comunidade de quase 850 milhões de falantes.
Este é um ativo extraordinário.
E o seu verdadeiro valor não é apenas demográfico; é um potencial estratégico para a coesão social, para a defesa dos valores democráticos, para a promoção de uma cidadania global e inclusiva, que relembra e cultiva o legado histórico de cosmopolitismo, de universalismo inclusivo e multicultural.
Num mundo em acelerada mudança, com sérios riscos de retrocessos civilizacionais, atávicos e isolacionistas, repletos de fobias inaceitáveis, temos de nos preparar para sair vencedores desta batalha, bem como vitoriosos dos desafios modernos da Inteligência Artificial e da emergência de práticas de desenvolvimento sustentável.
Para tal pode ser relevante esta ponte de sabedoria que a cooperação entre os nossos espaços linguísticos pode despertar, em geral e em especial na comunicação digital.
Os debates que aqui terão lugar sobre a geopolítica das línguas, a mobilidade e a economia criativas são cruciais para desenharmos linhas de ação conjunta.
Reafirmo, por isso, o total empenho do Governo dos Açores nos valores e objetivos desta conferência.
Permitam-me, porém, que evidencie o valor da lusofonia e da hispanofonia como notas de futuro comunicacional, que alie cultura e identidade às estratégias dos futuros líquidos. Da modernidade líquida que vivemos.
Esta conferência sobre multilinguismo pode e deve ser, pois, um pilar essencial para este desafio de âmbito geopolítico.
Na verdade, a consolidação efetiva do nosso espaço comum, transcenderá a "comunidade de afetos" que já somos, alcançando o patamar de uma comunidade coesa e estratégica nas influências gerais do cenário global.
O Oceano Atlântico é o eixo geoeconómico e geoestratégico que nos une.
A sua gestão sustentável, por nós acompanhada, torná-la-á mais segura e perene. Disso devemos fazer um imperativo mobilizador da nossa coesão.
Quero, por isso, deixar uma nota final de compromisso.
Um dos grandes desafios que temos pela frente será, sem dúvida, a concretização de um verdadeiro "Pacto Atlântico Ibero-Americano”, focado na governação comum dos nossos recursos de identidade cultural e de natureza.
Pela nossa posição histórica e geográfica ímpar, como a região europeia mais próxima das Américas, os Açores têm não só o interesse, mas todo o empenho e determinação em exaltar este processo e ser parte ativa na afirmação deste desígnio, caso seja esse o desejo de todos os parceiros.
Contem com os Açores.
Desejo a todos os participantes um trabalho muito profícuo. Que da cidade da Praia, hoje coração da Macaronésia, possam emergir contributos decisivos para o futuro desta nossa vibrante comunidade global. A comunidade Ibero-Americana.
Bem hajam.
Muito obrigado.”