Palácio da  Conceição

O Palácio da Conceição,  localizado na cidade de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, é propriedade da Região Autónoma dos Açores, sendo o local onde o Governo Regional tem o seu assento oficial.

O edifício foi inicialmente concebido na segunda metade do século XVII, como um mosteiro da Ordem da Imaculada Conceição, uma ordem religiosa católica feminina, de clausura e vida contemplativa, fundada por Santa Beatriz da Silva.

Arquitectura

O complexo original do edifício, cujas obras se iniciaram em 1664, é constituído pelo mosteiro, de planta quadrangular, com dois andares organizados em torno de um claustro central; pela igreja anexa, dedicada a Nossa Senhora da Conceição, composta por uma nave única com entrada lateral, uma capela-mor, uma sacristia e dois coros (alto e baixo, destinados às religiosas que ali assistiam à missa e a outras celebrações); por dois torreões mirantes, cada um com dois registos de dois pisos (dos quais, atualmente, subsiste apenas um); e por uma pequena cerca. A arquitetura do conjunto reflete uma combinação dos estilos "Chão" — caracterizado pela austeridade e sobriedade típicas do século XVII em Portugal — e Barroco, incorporando as mudanças de gosto ao longo do período de ocupação pelas monjas concepcionistas.

Entre o final do século XIX e os primeiros anos do século XX, quando o edifício já abrigava a Junta Geral do Distrito Autónomo e o Governo Civil de Ponta Delgada, o imóvel foi alvo de amplas reformas e expansões para adaptá-lo às novas funções administrativas. Nesse período, foram erguidas as alas sudeste, sudoeste, sul e poente, em um estilo eclético com forte influência neoclássica, além de parte da antiga cerca ter sido convertida em jardins, conferindo um novo caráter funcional e estético ao complexo.

Memória Histórica

Com a extinção das ordens religiosas em Portugal, implementada nos Açores em 1832, o edifício foi desamortizado e destinado a diversos fins civis e administrativos. Posteriormente, abrigou importantes instituições, como o Tribunal da Relação dos Açores, a Repartição da Fazenda, a Junta Geral do Distrito Autónomo e o Governo Civil de Ponta Delgada. Foi também nessa época que recebeu a sua designação atual, Palácio da Conceição, consolidando-se como um marco representativo da administração pública regional.

A igreja do mosteiro, cujo culto havia sido suspenso após a expulsão das monjas, foi reaberta na década de 1870. Por empréstimo, a Irmandade de Nossa Senhora do Monte do Carmo passou a realizar ali a veneração e a festa da sua padroeira. Por esse motivo, o templo é popularmente, embora de forma equivocada, conhecido como Igreja do Carmo.

No coro da igreja destaca-se um órgão de armário, datado de 1794, com 13 meios-registos e decorado com representações iconográficas de instrumentos de sopro e corda no interior das portadas. Este instrumento é obra do mestre organeiro Joaquim António Peres Fontanes (1750-1818).

Durante o verão de 1901, por ocasião da Visita Régia à Madeira e aos Açores pelos monarcas D. Carlos I e D. Amélia de Portugal, o Palácio da Conceição foi um dos palcos das diversas recepções realizadas na ilha em sua homenagem.

Já no período da República, especialmente durante o Estado Novo, o edifício recebeu a visita de Presidentes da República, como António Óscar de Fragoso Carmona e Francisco Higino Craveiro Lopes, além de inúmeros ministros em visitas oficiais.

Com a criação da Região Autónoma dos Açores, em 1976, o Palácio da Conceição tornou-se a sede oficial do Governo Regional.  Aqui foi formalmente hasteada pela primeira vez a bandeira oficial dos Açores, na noite de 12 de abril de 1979, pelo então Presidente do Governo, João Bosco Mota Amaral, marcando um momento simbólico na consolidação da autonomia política do arquipélago.

Desde 2024, no piso térreo do edifício, na área correspondente ao antigo claustro, está em funcionamento o Núcleo Museológico da Autonomia dos Açores, sob a responsabilidade do Museu Carlos Machado. Este espaço dedica-se à preservação e à divulgação da história autonómica do arquipélago, abordando as lutas, conquistas e transformações que definiram a identidade político-administrativa das ilhas enquanto Região Autónoma, em uma exposição que combina elementos históricos e culturais.

Restauro e Espaços Emblemáticos

Entre 2015 e 2024, o Palácio da Conceição foi submetido a um meticuloso processo de recuperação, que teve como objetivo preservar e valorizar o seu rico património histórico.

Entre os seus espaços mais emblemáticos, destacam-se a antiga Sala de Sessões da Junta Geral, atualmente designada como Sala do Conselho do Governo; a imponente Sala de Baile, também chamada de Salão Nobre; e a elegante Sala de Jantar. Esses ambientes foram enriquecidos com um valioso acervo artístico, que inclui mobiliário e obras plásticas e decorativas, abrangendo períodos que vão do século XVI a atualidade.

Além disso, os antigos coros alto e baixo foram cuidadosamente adaptados para servir como espaços de representação, mantendo sua relevância histórica enquanto atendem às exigências de novas funções contemporâneas.

Importância e Preservação na Atualidade

Hoje o Palácio da Conceição, como sede oficial do Governo Regional, assume um papel central na administração autonómica, sendo o espaço onde se realizam importantes decisões políticas e administrativas para o arquipélago.

A importância histórica e arquitetônica do edifício foi formalmente reconhecida através da sua classificação como Imóvel de Interesse Público, conforme estabelecido conforme estabelecido pela Resolução Nº 68/1981, de 28 de julho. Essa classificação sublinha o valor do Palácio da Conceição como testemunho vivo da evolução política, cultural e administrativa dos Açores.