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Cagarro (Calonectris borealis) – uma ave marinha fascinante e emblemática!

O cagarro, pertence a um grupo formado por diversas espécies de aves marinhas (Procellariiformes) que inclui os albatrozes, as pardelas (o cagarro é uma pardela) e os painhos. Todas estas aves apresentam narinas tubulares, que são duas passagens nasais com o formato de um tubo, que se localiza na parte superior do bico, por onde é expelido o sal que ingerem. 

O cagarro é a ave marinha mais característica dos Açores e uma das mais antigas que existem no planeta. Os cagarros passam grande parte da sua vida no mar (aves pelágicas), vindo a terra apenas quando chega a altura de reprodução, para fazerem os seus ninhos, acasalarem, incubarem o seu ovo e cuidarem da sua cria. 
 

Curiosidades

 

Enquanto permanecem no arquipélago, é frequente o avistamento de grupos desta ave que, de regresso às suas colónias, emitem vocalizações muito características, tanto em voo como no ninho. Entre março e outubro, é possível ouvir o “canto dos cagarros” por todas as ilhas dos Açores. Os machos emitem um som mais agudo e prolongado que as fêmeas, sendo que este som se parece com o coaxar de uma rã ou com o miar de um gato.

Morfologia

O cagarro é uma das maiores aves marinhas do arquipélago (maior que uma gaivota), com plumagem escura por cima e clara por baixo. 

O seu dorso apresenta uma plumagem cinzenta-acastanhada e tem um ventre branco. Esta ave marinha apresenta um bico forte e amarelo
 

O inverno no alto mar 

 

Estas aves marinhas alimentam-se de lulas, peixes e crustáceos (ex: caranguejos), em vastas áreas do oceano, podendo mergulhar até 20 metros. Esta alimentação ocorre muitas vezes em associação com golfinhos e atuns, o que facilita a captura dos alimentos a pouca profundidade. Esse facto permite que o comportamento desta espécie no mar seja um importante sinal, adotado pelos pescadores do atum dos Açores, que assim ficam a saber onde encontrar os cardumes das várias espécies de atuns que ocorrem na região.

Os cagarros estão bastante adaptados a este modo de vida exclusivamente marinho, sendo excelentes voadores, conseguindo planar por entre as ondas do mar durante horas, quase sem baterem as longas e flexíveis asas.

Distribuição 

 

A sua área de distribuição, durante a época de nidificação, inclui zonas temperadas e subtropicais do Atlântico Norte e do Mediterrâneo. O cagarro executa grandes migrações para as regiões situadas a Sul ou até a áreas situadas mais a Norte, como sejam a costa leste do continente norte americano. Em Portugal, distribui-se e nidifica nos Açores, Madeira, nas Berlengas e nas ilhas Desertas e Selvagens

A vida nos Açores  

 

Depois de permanecerem, durante os primeiros anos, em alto mar, no Atlântico Sul, regressam aos Açores entre fevereiro e março, passando a visitar as colónias de origem durante a noite. As colónias situam-se em falésias, ilhéus e arribas na zona costeira de todas as ilhas do Arquipélago dos Açores. Nos meses de permanência na região, é possível observar cagarros repousando no mar, formando grandes grupos (as denominadas “jangadas”), ao fim da tarde.

O acasalamento e a nidificação

O período reprodutivo é longo, estendendo-se por oito meses. No final de fevereiro até maio, os casais dedicam-se à manutenção e defesa dos seus ninhos, que revisitam e ocupam ano após ano. A união do casal, que geralmente se mantém durante a vida, é consolidada durante esses encontros. Os ninhos, que se situam em fendas nas rochas e cavidades naturais no solo, oferecem proteção aos adultos, ao ovo e à cria. No final de maio, a fêmea põe um único ovo, que será incubado alternadamente por ambos os elementos do casal, em turnos de aproximadamente 55 dias. Pelo final de julho, nasce a cria felpuda que cresce muito rapidamente.

A primeira grande viagem do cagarro 

Quando os cagarros juvenis atingem cerca de 90-95 dias (± 3 meses) de idade, abandonam o ninho (entre outubro e novembro) pela primeira vez em direção ao mar, e preparam-se para a sua primeira grande viagem de milhares de quilómetros pelo oceano Atlântico. Nesta 1ª viagem até ao mar, os cagarros (que se orientam aparentemente pelas estrelas), podem ser encandeados pelas luzes artificiais e enfrentam muitos perigos (predação, impactos por viaturas, aprisionamento em estruturas, etc). No entanto, quando bem-sucedidos (felizmente a maioria é bem-sucedida), irão passar os primeiros anos com outros cagarros em alto mar, a muitos milhares de quilómetros dos Açores. 
 

Conservação

 Os Açores são, em todo o mundo, a área mais importante para a reprodução dos cagarros. Estima-se que aqui se concentre a maior população nidificante da espécie Calonectris borealis (75%), estando a ave rigorosamente protegida por leis regionais, nacionais e internacionais (Diretiva Aves e Convenção da Vida Selvagem e dos Habitats Naturais da Europa – Convenção de Berna). 

A preservação dos cagarros nos Açores é crucial devido ao valor ecológico desta espécie. Desempenham um papel essencial no ecossistema marinho, ajudando a regular as populações de peixes e outros organismos marinhos. A sua presença também reflete a saúde dos oceanos, tornando-os indicadores valiosos para possíveis mudanças ambientais.

Importância de proteger os Cagarros nos Açores 

Os Açores têm uma responsabilidade acrescida na conservação desta espécie. Se bem que esta seja uma espécie que habite todo o Atlântico, é aos Açores que recorre, em maior número, todos os anos, para se reproduzir. 

Infelizmente, os cagarros apresentam ainda vários fatores de ameaça: 
 

  • destruição do habitat de nidificação – devido à introdução de plantas e animais exóticos, do crescimento urbano e da rede de estradas litorais;

  • elevada mortalidade – (na época do Outono) associada ao impacto da poluição luminosa que leva ao atropelamento e colisão de cagarros juvenis em estradas e zonas urbanas ou vulneráveis à predação por mamíferos introduzidos (ex: gatos, ratos e furões);

  • captura e morte de adultos e crias – quer para obtenção de isco, alimentação ou por vandalismo;

 

Desta forma, toda a ajuda é importante!

Se quiser ver mais fotos desta ave fascinante visite:
https://siaram.azores.gov.pt/fauna/aves/aves-marinhas/cagarro/_intro.html