Nota de Pesar
Presidência do Governo Regional
Foi com profundo pesar que recebi a notícia do falecimento de Álamo Oliveira, um homem cuja vida foi dedicada à criação literária, à defesa da cultura açoriana e à valorização da identidade do nosso povo.
A notícia da partida de Álamo Oliveira deixou-nos mais pobres. Partiu um homem que foi, ao longo da vida, uma das vozes mais autênticas da alma açoriana. Um criador inquieto, generoso e profundamente ligado às raízes das nossas ilhas, às suas gentes, às suas dores, às suas alegrias, às suas memórias.
Natural do Raminho, na ilha Terceira, Álamo não foi apenas escritor, poeta, dramaturgo. Foi, acima de tudo, um homem que escolheu viver através da palavra. Que escreveu como quem escuta, como quem procura dar sentido ao que somos. E fê-lo com uma entrega rara, com verdade, com exigência e com uma sensibilidade que tocava fundo.
A sua obra é extensa, diversa, e profundamente marcante. São perto de 40 livros entre poesia, romance, teatro, conto e ensaio, muitos deles traduzidos e lidos além-fronteiras. Mas para além dos livros, ficam as ideias, as perguntas, os palcos por onde passou, os leitores que tocou, os jovens que inspirou. Fica sobretudo uma maneira muito própria, muito nossa, de estar no mundo com dignidade, com coragem e com beleza.
Foi fundador do Alpendre – Grupo de Teatro, onde assumiu com paixão o papel de diretor artístico e encenador. As suas peças, tal como as suas letras e criações para a cultura popular, mostravam um olhar atento sobre a sociedade e uma profunda preocupação com o ser humano. E talvez seja isso que mais nos fica: Álamo via nas palavras uma forma de elevar o espírito, de reparar o que está quebrado, de dar sentido ao que é difícil nomear.
A emigração, a saudade, o sentimento de pertença, a luta por justiça, a fé nos outros, tudo isso atravessa a sua escrita como um fio de esperança. E essa esperança é talvez o seu maior legado. Uma esperança que não é ingénua, mas feita de resistência e de ternura. Porque ele acreditava, genuinamente, que a literatura podia mudar alguma coisa no mundo.
Álamo foi distinguido com a Insígnia Autonómica de Reconhecimento pelo Governo Regional dos Açores e com o grau de Comendador da Ordem do Mérito pela Presidência da República. Mas a distinção maior é aquela que só o tempo sabe dar, a da permanência. E essa, ele conquistou.
Em nome do Governo dos Açores e em meu nome pessoal, endereço à sua família, aos amigos, e a todos os que com ele caminharam, o nosso mais sentido pesar. Álamo Oliveira parte, mas deixa-nos o mais precioso dos testemunhos, a palavra que fica, a memória que ilumina, a Açorianidade que resiste.
José Manuel Bolieiro
Presidente do Governo dos Açores